Sua estatura era mais baixa que a minha, o que é difícil de acontecer com adultos. Um metro e quarenta e cinco centímetros de muita força. Eu trombei com ela quase na porta da minha casa e seguimos caminhando lado a lado. “Trabalho desde os meus oito anos na roça e estou aqui, viva”. Sua indignação era sobre o trabalho infantil, sempre trabalhou desde muito cedo, mas estava lá, viva e forte.
“Ela estuda?”, perguntou ao ver minha filha uniformizada. “Isso mesmo, estimule ela a estudar, eu faço isso com os meus netos, já que eu não sei ler e escrever, pelo menos eles vão saber”.
Sua feição era cansada, as rugas acumulavam o suor em sua testa e ao redor dos olhos, estava calor, como é comum às doze horas, em Curitiba. Falando de seus netos, se lembrou de como a situação estava difícil em casa, só a filha trabalhava. Sendo assim, perguntou se não havia algumas roupas de criança para doar. Em geral, crianças deixam de usar suas roupas muito rapidamente, o crescimento acelerado nessa idade aperta o bolso de qualquer um.
“Claro, eu levo as roupas para você, onde você mora?”, fiz essa pergunta quase que provocando a resposta que eu já sabia. Eu conhecia aquela mulher há anos, sempre a via passar pelas ruas, caçando comida em lixos vizinhos. “Moro naquelas casas de madeira ali na rua de trás, que as pessoas chamam de favela”.
Perguntei seu nome, mas não consigo me lembrar qual era, a frase que havia dito ecoava em minha mente. Seu lar, a inspiração dos meus projetos de estudo pessoal, a “Favela do Tingui”, para ela, não era uma favela. Esse era o modo como as pessoas a chamavam, assim como eu.
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